Irmãos de Fé

(Brasil, 2004)
Direção: Moacyr Goes
Roteiro de David França Mendes com colaboração de André Chevitarese e Marcos Ribas De Faria. Elenco: Padre Marcelo Rossi (Padre), Thiago Lacerda (Saulo / Paulo), Othon Bastos (Pedro), José Dumont (Tiago), Gustavo Ottoni (Barnabé), Cláudio Corrêa e Castro (Gamaliel), Rodrigo Hilbert (Tito),
Sinopse: Irmãos de Fé conta a história do nascimento da Igreja Cristã e outra do renascimento de um menino. Uma das histórias do filme acontece há dois mil anos e mostra a trajetória de um homem - Paulo - que foi um perseguidor de cristãos e acabou se tornando um dos seus maiores santos, ao mesmo tempo em que apresenta a sabedoria de um outro - Pedro - que soube aprender e mudar, que soube reconhecer o novo e fazer a ponte entre o passado e o futuro.
A outra história se passa na São Paulo de hoje e mostra o encontro entre um homem de Fé, o Padre Marcelo, e um menino das ruas, o adolescente Paulo. Um encontro que começa marcado pela violência de um seqüestro relâmpago e se torna um caminho em direção à liberdade e à esperança.
São Paulo, 2004. Dois rapazes seqüestram um casal de idosos para sacar seu dinheiro num caixa eletrônico. Há um enfrentamento com a polícia. O mais velho é baleado, o mais jovem - Paulo, menor de idade - vai para a Febem. A irmã de Paulo, Mariana, busca ajuda do Padre Marcelo. Eles vão juntos à unidade da Febem onde Paulo está recolhido. O garoto os recebe com hostilidade. É especialmente violento com a irmã, por quem - ele imagina - teria sido delatado. Quando fica a sós com Paulo, o Padre oferece a ele um exemplar da Bíblia Sagrada, marcada num ponto especial, "Atos dos Apóstolos", que conta especialmente a história do apóstolo Paulo. O jovem recusa o livro, joga-o contra a parede. Mas o livro cai aberto exatamente na página marcada pelo padre. De madrugada, insone e sozinho na cela, acaba entregando-se à leitura.
A história que ele lê começa então a se desenrolar. E é uma história de ações e emoções fortes.
Estamos, então, na Jerusalém do século I D.C. e, diante dos nossos olhos, ocorre a execução por apedrejamento de Estevão, o primeiro mártir Cristão. Estevão morre afirmando Jesus como o Messias. Quem assiste a sua execução é o jovem Saulo, um sacerdote conhecedor das leis judaicas que se sente ofendido em sua tradição
e sua fé pelas palavras e atitudes de Estevão e outros seguidores de Jesus.
A partir daí, Saulo se torna o líder de uma violenta repressão a essas pessoas, consideradas hereges, entre elas
a própria irmã de Estevão cujo ódio por Saulo é visceral. Há prisões e torturas.
As ações repressivas lideradas por Saulo são vistas com bons olhos pela maioria dos sacerdotes, que não hesitam em atender seu pedido de uma autorização para ir a Damasco continuar as prisões entre os hereges. Saulo parte para o deserto, a cavalo e acompanhado de um grupo de companheiros.
De volta ao século XXI, encontramos o garoto Paulo envolvendo-se numa briga no refeitório da Febem e sendo reconduzido à cela. Lá encontra o Padre Marcelo, que se decepciona com a atitude do menino e insiste para que ele leia o livro - sem saber que Paulo já está acompanhando a narrativa dos apóstolos.
De volta à Palestina de dois mil anos atrás, vemos Saulo e seus companheiros serem surpreendidos no deserto por uma luz de incrível intensidade, que ofusca a todos. Os soldados escutam vozes, a voz de Saulo e a de um outro. Mas apenas Saulo "vê" que é de Jesus a voz que pergunta "Saulo, por que me persegues?". A luz se vai, mas Saulo está cego. Ele é levado para Damasco, onde recupera a visão e se torna o mais apaixonado seguidor das idéias que combatia. Saulo é batizado, torna-se Paulo, passa a pregar a Palavra de Jesus com o fervor de um autêntico apóstolo, com uma missão que o próprio Jesus lhe deu.
Mas não é fácil para os apóstolos Pedro, Tiago e João acreditar que aquele que os perseguia como Saulo, agora, como Paulo, era um irmão de fato, e a primeira luta de Paulo é para ser aceito por aqueles que conheceram Jesus, que receberam sua visita quando da Ressurreição.
Sua fé afinal é reconhecida, mas lutas maiores virão. Por um lado, ele sofre agora perseguições semelhantes às que ele mesmo promoveu. É agredido e quase morto mais de uma vez. Por outro lado, mesmo entre os que crêem em Jesus há diferenças. Quando Herodes manda prender e torturar Pedro, o mais velho dos apóstolos e aquele que comanda a Igreja de Jerusalém, Tiago atribui a violência à pregação radical de Paulo entre os gentios. Assumindo o posto de Pedro, ele envia cartas aos cristãos em diversas cidades desautorizando as idéias de Paulo.
E que idéias são essas?
A missão que Paulo recebeu de Jesus foi a de levar a Palavra a todos os povos. Até então, a pregação se dava apenas entre os judeus e aqueles que não pertenciam à raça de Abraão e se convertiam, deveriam afirmar e viver dentro dos preceitos judeus. Paulo vai levar o Evangelho aos não circuncidados, aos que comem carne impura, aos que não honram os sábados. Vai querer levar a palavra aos gentios, a todos os cantos da Terra. Tiago não aceita isso. E Paulo não aceita ser silenciado, pois foi Jesus quem lhe ordenou que seguisse esse caminho.
Pedro é libertado da prisão de Herodes por um anjo e vai se reunir aos apóstolos de novo. Um concílio então é convocado, o primeiro da fé Cristã. Há o confronto entre Tiago e Paulo, entre dois homens de vontade forte. Pedro acaba sendo o fiel da balança. Paulo afinal poderá prosseguir na sua missão, à qual Pedro irá também se unir, mas deverá também respeitar a tradição. A estrada é o caminho dos apóstolos. Antes de seguir, no entanto, Paulo receberá a visita da irmã de Estevão, a irmã do primeiro mártir da sua intolerância. Ela beija a sua mão, num momento de emoção intensa. E, pela primeira e única vez, Paulo chora.
Na Febem, onde um outro Paulo está recluso, um pequeno milagre se opera. Lendo o livro, conhecendo a vida dos apóstolos, Paulo se reconhece e se transforma. Pede ao Padre que chame sua irmã. O reencontro é forte, eles se abraçam, e o próprio Padre mal contém as lágrimas.
Finalmente libertado, o menino Paulo precisa proteger-se dos traficantes aos quais era ligado e, no programa de proteção à testemunha, escolhe seguir para a Terra Santa de Jerusalém, acompanhado da irmã e do Padre. Lá ele causa espanto ao declarar que irá voltar para a Febem. E de fato volta. Mas, desta vez, como um evangelizador, empenhado em mudar o destino de meninos transgressores como ele, no passado.
Irmãos de Fé, acima de tudo, a celebração da tolerância.



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