TERÇA 03.12.13

MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA NA CULTURA
0h30 TV Cultura - Ervas Daninhas
(Les Herbes Folles, França/Itália, 2009)
104 min.
Direção: Alain Resnais
Elenco: André Dussollier , Sabine Azéma , Emmanuelle Devos , Mathieu Amalric , Anne Consigny
Sinopse: A dentista Marguerite não podia prever que roubariam sua bolsa na saída da loja. Menos ainda que o ladrão jogaria as coisas que estavam dentro dela em um estacionamento. Quanto a Georges, se ele tivesse pensado duas vezes, não teria se abaixado para pegá-las.
Baseado no romance LIncident, de Christian Gailly.
Bastidores: Prêmio Especial pelo conjunto da obra e excepcional contribuição à história do cinema no Festival de Cannes.
Notas da Crítica
1. Vinicius Nascimento, do site Almanaque Virtual: 5/5
"Provavelmente o filme de Resnais incomodará espectadores que estão acostumados com histórias hollywoodianas estruturadas. Assim como a força anárquica das ervas daninhas, o diretor quis realizar um filme com novos códigos e novas explorações dos sentidos e desejos. Isso se deve também a vontade de encontrar equivalência com o estilo de Christian Gailly escrever. ("... seu jeito único de interromper uma frase no meio, o uso do afirmativo e negativo na mesma sentença, sem esquecer as flagrantes contradições dos personagens e sua constante impulsividade").
Em alguns momentos o filme pode parecer extremamente absurdo, e é, mas Resnais consegue tirar dessa "geração espontânea que promove rachaduras" um filme extremamente interessante que fala principalmente sobre a necessidade de ser escutado e amado.
Se o espectador se permitir entrelaçar nessas ervas daninhas de Resnais pode se surpreender ao ser levado por caminhos inimaginados. "
2. Marcelo Hessel, do site Omelete: 4/5
"A certeza de que Ervas Daninhas trabalha com um esperto simulacro - uma cópia do mundo criado no imaginário das histórias de amor francesas - reside nas escolhas de câmera (planos ironicamente cafonas de grua, panorâmicas...) e na aberrante paleta de cores do filme. É como um Pedro Almodóvar por Resnais: o já citado cabelo vermelho, carros amarelos, neon por todo lado, meias-luzes a torto e a direito, película com esfumaçados meio Technicolor que lembram outro filme recente do diretor, Beijo na Boca, Não!.
Nesta sua época da maturidade, Alain Resnais parece cada vez mais interessado em revisitar, de forma crítica ou simplesmente cômica, as regras que regem gêneros diversos. Ervas Daninhas tem música de suspense, clima neo-noir, humor nonsense, drama familiar, cartela falsa de "The End" antes do fim, até a vinheta clássica dos filmes da 20th Century Fox (que não tem nada a ver com a produção do longa). Ao mesmo tempo em que domina formalmente o ofício, o cineasta experimenta como um enfant terrible."
3. Neusa Barbosa, do site Cineweb: 4/5
"Há um frescor inusitado na própria maneira com que Resnais conduz sua câmera, que também nunca se sabe onde vai nos levar. Um bom exemplo é quando ela abandona personagens falando numa sala, numa reunião familiar, e vai nos mostrando as paredes, os objetos, as janelas,enquanto continuamos ouvindo ao longe a conversa entre Georges Palet (André Dussollier, de Medos Privados em Lugares Públicos), sua mulher Suzanne (Anne Consigny, de Um Conto de Natal) e seus filhos (Sara Forestier e Vladimir Consigny).
A principal – mas não a única - relação ambígua que o filme acompanha se desenvolve entre Georges e a dentista Marguerite Muir (Sabine Azéma). Duas pessoas que não teriam porque conhecer-se mas cujos destinos acabam unidos pelo incidente banal de Georges ter encontrado a carteira de Marguerite, cuja bolsa havia sido roubada. O próprio diálogo interior de Georges para decidir o que fará com essa carteira de uma desconhecida, cuja personalidade ele tenta decifrar pelas fotos de seus documentos, sinaliza uma perturbação emocional. Não que Georges seja louco propriamente, mas sem dúvida disfuncional no limite da bizarrice. "
4. Inácio Araujo, Folha Ilustrada: 4/4
"Os amores talvez sejam sempre incidentes. Este é apenas um pouco mais. Mas não é o ponto. É o filme estar sempre aberto à observação (e, a partir dela, à invenção).
Um exemplo: o telefone toca na casa de Margô. Ela vai atender. O telefone continua a tocar, indiferente à sua aproximação. Ela diz: "Calma. Um minuto. Estou chegando", como se falasse com alguém. Se domina esse registro, digamos, realista, o mais das vezes o filme se apresenta francamente como uma representação do mundo, e não como sua réplica naturalista. Isso começa na cenografia, setor que Resnais carrega de irrealismo e contrastes de cores.
Mas prossegue ao longo dos incidentes que pontuam essa comédia (ou quase comédia?). Isso vai desde a maneira como Georges é recebido na delegacia, passa pelas atitudes de Margô no consultório (ela é dentista) e culmina com certas ações (Georges corta os pneus do carro de Margô).
Mas o fato de estarmos numa quase comédia não impede o filme de fazer observações agudas sobre as pessoas, as coisas e o amor. Um momento para a memória: quando Margô se pergunta por que um homem a ignora, não pensa em grandes acontecimentos, mas no nariz talvez pequeno, ou nos dentes.
Todo o tempo Resnais leva da arte à vida, do cômico ao trágico, da certeza à incerteza. Seria possível dizer quase isso de "O Ano Passado em Marienbad". Mas lá Resnais ainda tinha algo a provar. "

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